NAZARENO - UMA HISTÓRIA DE ARTE E FÉ
- prosaearte
- 6 de fev. de 2017
- 4 min de leitura
UM BATE-PAPO COM PERSONAGENS QUE CONTAM FATOS MARCANTES DA HISTÓRIA DO MUNICÍPIOS
Sergio Martins- Tatiana Maria- Thais Andressa

A cidade de Nazareno está situada na região do campo das Vertentes. Localizada há aproximadamente 50 Km de São João del-Rei, é famosa por suas festividades religiosas principalmente o Jubileu de Nossa Senhora de Nazaré, que acontece anualmente no mês de setembro. O início do povoamento data de 1725 e no ano de 1831 o arraial contava com 1507 habitantes, sendo que, a metade eram escravos.
Vista panorâmica de Nazareno
Pertencente à Comarca de São João del-Rei, Nazareno teve sua emancipação em 1° de janeiro de 1954, tendo como o seu primeiro intendente o Sr. Edmundo Loures. O único livro que conta a história de Nazareno foi escrito no ano de 1992, por Ana Flausina da Trindade Nacif, mais conhecida como Dona Anita. Intitulado Nazareno, minha terrinha querida, na Apresentação da Obra Lê-se o trecho: “Possa o leitor encontrar nesta simples e despretensiosa história, algo que lhe sirva para conhecer um pouco melhor a terra da Virgem de Nazaré”.

Em 1970 Dona Anita atuou como professora ao lado de Padre Francisco de Andrade, que era o então diretor do antigo “Ginásio”, um dos primeiros colégios da cidade. A professora de Português Maria de Nazaré Barbosa ressalta a relevância de Dona Anita na história da Educação em Nazareno. “Ela era além de muito culta, também muito dedicada. Trabalhava os valores da arte, gostava muito de dança e apresentações de teatro. Lembro com saudade dos bailados que ela ensaiava com a gente para as apresentações do grêmio estudantil. Eu me inspirei muito nela, e isso ficou marcado na minha vida”. Dona Anita teve um casal de filhos e era sobrinha de Cônego Heitor Augusto da Trindade.
A RELIGIOSIDADE DO POVO NAZARENENSE

A segunda igreja construída em Nazareno foi em honra a padroeira do Município, Nossa Senhora de Nazaré. Edificada por Joaquim Maia tendo como auxiliares todos os moradores do Ribeiro Fundo. Toda feita em pedra, a obra demorou aproximadamente vinte anos para ser finalizada e foi benta no dia 6 de setembro de 1885 pelo bispo de Mariana D. Antônio Maria Corrêa de Sá e Benvides. Mais tarde no bairro Rosário, também conhecido como morro, foi construída pelos escravos, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário.
Cônego Heitor e Padre Francisco de Andrade durante festividade religiosa

Nazareno também possui a igreja de São Sebastião e a nova igrejinha de Santo Antônio. A respeito da religiosidade do povo nazarenense, Carmélia Paiva, 76, declara: “Aqui é uma maravilha. Um lugar de povo Religioso. Bem atuante nas igrejas amigo dos padres. Porque começou com o Cônego Heitor que ficou em Nazareno por cinquenta anos e trabalhou muito pela religiosidade do povo de Nazareno. E essa raiz os outros padres que entraram foram cultivando”.

Bendito Eduardo de Carvalho, 69, nascido em Conceição da Barra de Minas em 13 de outubro de 1947, mudou-se para Nazareno em 1966, após o falecimento de seus pais. Eu me admiro o povo de Nazareno que é acolhedor, de muita fé, trabalhador. Eu tenho uma grande admiração. Eu sou natural de Conceição da Barra. Mas eu me considero nazarenense de coração.
O escultor de arte sacra conta que muitas pessoas saiam das roças e iam para o Nazareno, com o objetivo de participar da missa à s seis horas da manhã. Ás vezes acontecia um atraso de meia hora, pois Cônego Heitor Augusto da Trindade dedicava um tempo para o atendimento de confissões. Naquela época as pessoas tinham o costume de comungar em jejum. Dessa maneira, terminada a celebração da missa, o padre chama va as pessoas na casa paroquial, onde era oferecido o café, com broa e pão, para que as pessoas ao voltarem para a roça estivessem a alimentadas.

A CAPELA PRIMITIVA EM HONRA A SANTO ANTÔNIO
Um episódio memorável para a história do povo nazarenense foi a demolição da capela primitiva no ano de 1960, um bem cultural de valor artístico e arquitetônico. Em honra a Santo Antônio, a capela foi benta no ano de 1734. O acontecimento representou um atentado contra a memória cultural do município. Demolir casarios antigos e prédios históricos é um fato recorrente, seja pelo mal estado de conservação ou pela necessidade de mudança.
De acordo com Elis Marina Mota, 27, formada em Restauração de Bens Culturais e mestranda em patrimônio cultural no IPHAN: “Uma parte da história da cidade foi embora junto com essa demolição, em busca de um progresso que poderia vir em outros terrenos. Daria para conviver harmoniosamente o antigo com o novo, sem que fosse isso considerado um retrocesso. É preciso nesses casos uma medida que busque um tombamento emergencial, que não precisa ser numa esfera federal, mas que seja num conselho municipal de Cultura”.

Tal fato é semelhante ao que ocorreu com a Igreja do Sr. Bom Jesus do Matosinhos em São João del-Rei . Segundo as palavras do padre Jacinto Lovato, na época pároco de Matosinhos e favorável ao processo : “As igrejas são para utilização dos fiéis e não para serem contempladas como pura arte de construção”. No caso de São João del-Rei almejava-se um templo que fosse mais moderno e abrigasse maior número de pessoas. Já em Nazareno foi em prol da construção de um hospital, que proporcionasse melhorias para a saúde da população.
De acordo com o artesão Benedito Eduardo de Carvalho, 69: “Tinha terreno à vontade para construir o hospital, não precisava demolir a igreja para construir o hospital não. Aquilo foi uma falha, as pessoas não pensaram antes o que ia fazer de desagradável pra cidade. Até hoje grande parte das pessoas, choram a beleza daquela igreja, que era um cartão- postal de Nazareno”. Benedito Carvalho conta que no interior da primitiva igreja tinha muitas tábuas que eram enumeradas, e onde eram enterrados os benfeitores ou cidadãos de famílias tradicionais. “Tinha muita gente sepultada dentro da igreja e nos arredores de seu território. Quando ocorreu a demolição, a patrola arrancou muito caixão, alguns feitos com madeira de cedro e que estavam praticamente perfeitos”, enfatiza o artesão.
É interessante ressaltar que no setor de arquivos paroquiais da Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar em SJDR é possível ter acesso a um livro escrito pelo Padre Heitor Augusto da Trindade do tempo que ele estava em Nazareno onde fala sobre nascimentos, óbitos entre outros.